domingo, 27 de dezembro de 2020

MODELO AOS 56 ANOS

                                                       

Oi pessoas maduras! 

Sou Yara Campos e tenho uma longa história, como todos nós maduros... Agora o certo seria dizer à vocês a minha profissão. 😀

Tenho várias. Vamos lá, serei breve, já que quero chegar logo aos dias atuais, que é o verdadeiro motivo de eu estar aqui.

Sou graduada em enfermagem pela Universidade Gama Filho, em seus áureos tempos, aqui no RJ.

Sou professora de Yoga, formada pela Ananda Marga. Uma instituição indiana de yoga e meditação.

Sou modelo, profissão atual! Pelo menos assim espero e por isso estou trabalhando.

Mas, tem uma forma mais legal de contar essa minha história. E assim vou te levar pelos caminhos da minha vida profissional.

Sou Yara, uma menina de 7 anos de idade que adora desfilar nas passarelas dos concursos de beleza do colégio em que estuda. Eu adoro ser vista e admirada. Adoro os olhares e ser o centro das atenções. Quando estou em cima da passarela a sensação é de uma alegria enorme, de poder e, a Yara de hoje pode explicar melhor... são os neurotransmissores !

Quando eu desfilo o mundo some; não tenho nenhum medo, tenho muita confiança e só existe no mundo, naquela hora, eu e as pessoas que me assistem. 

Também amei o palco quando representei Vida e Morte Severina, já mais velha, no Teatro do Colégio. Todos me disseram que eu representei muito bem e que deveria investir nesse caminho.

Claro que sim!!! E fui dar essa notícia à minha família, dizer que eu queria fazer artes e não medicina, como todo mundo esperava de mim. 

Eu não obtive o apoio, a permissão e guardei esse sonho dentro de mim. Enquanto cursava o segundo grau, passava algumas tardes na sala de casa, deitada no sofá  sonhando com uma apresentação ou um desfile em que eu era a protagonista. Achava que todos , com certeza, gostariam de ter uma vida assim. Só hoje, aos 57 anos, na minha terapia, eu descobri que esse não era um sonho de todos; era um sonho só meu.

 Acabei cursando enfermagem e foi bom. Exerci essa profissão por muitos anos. Tinha um trabalho bem específico na cirurgia cardíaca, Circulação Extracorpórea. Eu operava uma máquina que substituía o coração e o pulmão do paciente na hora da cirurgia. Era um trabalho de grande responsabilidade, no qual a vida do paciente ficava sob meu controle durante aquele tempo. Fiz bons amigos e bom dinheiro que me proporcionou viagens e uma vida material bem tranquila. Nesse período eu vivi uma relação amorosa que durou 12 anos!!! Foram muitas emoções...

Mas, por ser um trabalho bastante estressante, meu lado emocional não suportou... muitas vezes eu voltava do trabalho e ficava revendo, por horas, toda a cirurgia em busca de alguma possibilidade de erro da minha parte. O profissional da saúde, dependendo da área em que trabalha, não pode errar. Isso gera muita pressão interna e externa.

Percebi que algo estava muito errado quando não conseguia mais levantar da cama para ir trabalhar. Esgotamento! Insatisfação!

E, aos 40 anos, eu parei tudo. Parei de trabalhar. Fiquei dois anos sem trabalho. Nesse período eu fiquei bem mal porque estava acostumada com o trabalho pesado, quatro cirurgias todos os dias. De repente eu não tenho o que fazer. Me achava o pior dos seres... improdutiva.  A questão financeira não me incomodava tanto, pois tinha outra fonte de renda. Mas, o fato de estar profissionalmente perdida, dentre outras coisas, me deixou mentalmente doente. 

Uma coisa eu tinha como certa: não iria trabalhar em mais nada que não tivesse a ver com o que eu acreditava, com minha essência. Mas, não pensem que a carreira de modelo chegou agora... não... eu havia me esquecido completamente desse sonho, tão enterrado ele estava!

Eu já praticava Hata Yoga, o que me ajudava bastante na parte emocional. Durante o tempo que pratiquei yoga, fui mudando por dentro. Mudei valores de vida, mudei crenças, alimentação, objetivo, rumo, amigos, parceiro... ufa... mudei muito. Acho que isso também contribuiu para minha insatisfação com a enfermagem.. Parecia que eu não cabia mais ali naquele mundo.

Passei a olhar a saúde de forma preventiva, passei a olhar o ser humano de forma holística. Nada a ver com o ambiente hospitalar e as pessoas com quem me relacionava profissionalmente.

Após dois anos, resolvi fazer um curso de formação em Yoga. Maravilha!!! Era tudo o que eu queria e precisava. Me encontrei naquele ambiente. Tinha tudo a ver comigo. 

E, durante oito anos eu fui professora de yoga. Com a bagagem dos estudos da enfermagem, minhas aulas tinham, de minha parte, um cuidado com as patologias dos meus alunos na hora de praticar as posturas. Sempre achei que o yoga é para todos e,  por causa dos meus conhecimentos de anatomia humana, eu sempre tinha uma alternativa para as limitações das pessoas.

Foi muito bom! Conheci a filosofia, o aspecto devocional, a anatomia energética do corpo, enfim, adquiri muitos conhecimentos que me são muito úteis, para mim e tantas pessoas que quiserem praticar. Yoga é uma ferramenta completa. Mexe com o corpo e a mente, o sistema nervoso, a respiração, etc.

Vai me acompanhar pro resto da vida.

Mas, desta vez não fui eu que quis largar a profissão. A profissão veio me largando ao longo do ano de 2019. O número de alunos foi diminuindo gradativamente até chegar a 2020, na pandemia, quando resolvi dar aulas online. 


Em 2019 começou a chegar até mim vários artigos sobre modelos acima de 50 anos. Achei muito legal essa possibilidade para pessoas maduras. E o que aconteceu? Aquele sonho esquecido, abafado, enterrado, foi dando o ar de sua graça sem que eu percebesse, sem que eu me lembrasse da menina do começo desse texto. 

Mas eu tinha um problema sério a ser resolvido. Baixa alta estima, porque durante a adolescência eu sofri muito bulling visando a minha aparência física. Então eu me achava horrorosa e nada fotogênica. Foi o trabalho terapêutico que, aos poucos, foi mudando essa minha forma de me ver e foi trazendo à tona, um mulherão, como minha terapeuta diz, capaz de se olhar e se gostar.

Achei que o número escasso de alunos de yoga era um sinal da vida me dizendo que algo iria mudar, ou eu teria que mudar, qualquer coisa assim. Mas a mudança era certa. Eu só não sabia, mais uma vez, para onde ir.

Mas, não demorou muito para eu traçar um rumo, um norte. Resolvi enviar umas fotos para uma agência de modelos. Fui aceita. Fiz um book. Rápido assim!

Quando eu entrei no estúdio para fazer o ensaio fotográfico a sensação foi de um total bem estar, uma familiaridade. Em nenhum momento me senti intimidada, com medo ou vergonha. Estava em casa!!!

Adorei ser penteada, maquiada, vestida. Eu voltava a ser o centro das atenções que eu tanto amava quando criança. Mas, o cair da ficha aconteceu mesmo quando eu comecei a ser fotografada. Na hora dos flashes da máquina fotográfica, iam aparecendo, surgindo do fundo da minha alma, as imagens daquela menina nas passarelas.

Que sensação de alegria eu senti!! Uma total intimidade com o olho da câmera. Claro que eu não sabia nada sobre as poses.. dei trabalho à fotógrafa. Mas o ensaio ficou lindo e eu mal acreditava quando a fotografa falava, "nossa, como você é fotogênica"! 

A menina sim, era e se achava bonita e fotogênica. Depois da adolescente em diante, nunca me achei bonita nem fotogênica. Devo essa transformação à terapia.

 Ali, sentada na frente da câmera, sendo inundada pela luz daquele flash, eu ia me recordando da menina, deixando ela ser feliz e me curando de tantas feridas que me levaram a fazer tantas escolhas erradas, gerando sofrimentos intensos, confusões, relacionamentos abusivos, etc.

Melhor nem lembrar! 

Agora é um novo tempo. Sou modelo comercial em começo de carreira. Aos 57 anos estou fazendo o que eu queria fazer aos 9 anos de idade. Que sorte, que benção poder me fazer feliz!!

Então, Sou Yara Campos, modelo, 57 anos, VIVENDO EM VOZ ALTA












ACEITAÇÃO DO CORPO MADURO

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